A presença de pessoas com deficiência na mídia tem se tornado constante. Não há como negar que personagens de ficção tiveram seu papel importante para o tema se evidenciar. Isso também fez aumentar sensivelmente a quantidade de reportagens nos jornais, rádios, TVs e internet.
Calçadas esburacadas, falta de rampas, ônibus adaptados, qualificação profissional e lei de cotas para o mercado de trabalho são apenas alguns dos temas recorrentes. Entretanto, há aspectos que precisam ser observados nas redações quando vai se tratar do assunto.
Anos atrás, as pessoas com deficiência se evidenciavam por seus próprios méritos por conseguirem chegar à escola, conquistar um emprego e assim, se transformarem em grandes personagens de superação de seus limites.
Atualmente, essa visão se modificou e é necessário que os meios de comunicação também reflitam essa mudança.
Aquela aura de coitado das imagens de TV ou dos textos de jornais precisa ser extirpada. Compreendo que pode ser difícil no começo, mas não impossível.
Uma das mudanças mais consideráveis neste sentido é sobre como se referir a quem tem deficiência. Bem antigamente, era muito comum se ouvir expressões como "aleijado", "excepcional", "mongoloide" entre outros. O tempo passou e elas foram praticamente abolidas do vocabulário.
Então, surgiram outras denominações para sutilmente substituí-las, como "pessoas portadoras de deficiência", "portadores de necessidades especiais", "deficiente" e outras denominações deste gênero.
Entretanto, elas também já não são mais bem aceitas, pois elas evidenciam a "deficiência". Além de não fazerem sentido algum, como por exemplo, a palavra "portadores". Quem porta algo pode, a qualquer tempo, não portar mais, e com a deficiência isso não acontece.
Outro exemplo é "necessidades especiais". Um termo que surgiu para denominar quem tinha uma necessidade educacional especial que, com o tempo, passou a representar toda a gama de pessoas com deficiência, física, visual, auditiva ou intelectual.
Cada ser humano é único e cada um tem sua "necessidade especial" no dia a dia. Um pouco menos ou mais de açúcar, ter um carinho do namorado ou da namorada, entre outras necessidades que fazem a nossa vida ser única.
Além dessas justificativas, essas expressões se tornaram carregadas de conotações pejorativas e preconceituosas.
Os movimentos mundiais das pessoas com deficiência, inclusive os do Brasil, assinaram a Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidades das Pessoas com Deficiência, aprovado pela
Assembleia Geral da ONU, em 2006, e ratificada no Brasil em 2009, entre vários outros aspectos, de que forma preferem ser chamados: Pessoa com Deficiência.
O objetivo é valorizar o ser humano e não sua condição permanente ou passageira e isso precisa ser levado em consideração quando vai se contar uma história na reportagem, pois ajuda a levar para a sociedade estes mesmos conceitos.
Colocar alguém com deficiência como entrevistado é mais do que necessário, mas a condição dele não pode transformá-lo num herói, quando ele é apenas um ser humano com seus direitos e deveres como qualquer outro cidadão.
O bom-senso é um excelente caminho nesses momentos. Ponderar o motivo daquela pessoa com deficiência estar presente na reportagem, o que realmente é relevante, sem colocá-la em situações constrangedoras.
Entendo que ainda falta muito para que este segmento tenha as mesmas conquistas de outros movimentos sociais, porém, para se chegar lá, a mídia tem papel fundamental.